Gogol escreveu a Zhukovsky em janeiro de 1848: “... não me compete fazer nenhum sermão. De qualquer modo, a arte é uma homilia. A minha tarefa é falar através de imagens vivas, e não de argumentos. Tenho de exibir a vida de rosto inteiro, não discutir a vida.”
Quanta verdade há nisso! De outra forma, o artista estará impondo suas idéias ao seu público. Alguém terá dito que ele é mais inteligente do que as pessoas na platéia, o leitor com um livro nas mãos, ou o espectador na primeira fila do teatro? Acontece, simplesmente, que o poeta pensa por imagens, com as quais, ao contrário do público, ele pode expressar sua visão do mundo. É óbvio que a arte não pode ensinar nada a ninguém, uma vez que, em quatro mil anos, a humanidade não aprendeu absolutamente nada.
Se houvéssemos sido capazes de prestar atenção à experiência da arte e de permitir que ela nos modificasse de acordo com os ideais que expressa, já teríamos nos transformado em anjos há muito tempo. A arte tem apenas a capacidade, através do impacto e da catarse, de tornar a alma humana receptiva ao bem. É ridículo imaginar que se pode ensinar as pessoas a serem boas, assim como é impossível pensar que alguém possa tornar-se uma esposa fiel seguindo o exemplo “positivo” da Tatiana Larina, de Puchkin. A arte só pode oferecer alimento – um impulso, um pretexto para a experiência espiritual. (p. 55)
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Esculpir o tempo, Andrei Tarkovski. 2a. edição, São Paulo. Martins Fontes, 1998.
Un chien andalou (1929)
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