28 January, 2006

Andrei Tarkovski, sobre Luis Buñuel: fúria e política

Se, para dar maior clareza à minha teoria, nos voltarmos agora para a obra de Luis Buñuel, um dos cineastas de quem me sinto mais próximo, descobriremos que a força condutora dos seus filmes é sempre o anticonformismo. Seu protesto -- furioso, intransigente e duro --expressa-se, sobretudo, na textura sensual do filme e é emocionalmente contagiante. O protesto não é calculado, cerebral, nem intelectualmente formulado. Buñuel tem uma veia artística por demais grandiosa para ceder à inspiração política, que, em minha opinião, é sempre espúria quando se expressa abertamente numa obra de arte. Mesmo assim, o processo social e político que encontramos em seus filmes já seria suficiente para inúmeros diretores de menor estatura.
Buñuel é, sobretudo, portador de uma consciência poética. Ele sabe que a esgrutura estética não necessita de manifestos, e que a força da arte não se encontra aí, mas, sim no poder de persuasão, naquela força vital única a que se referia Gogol na carta acima citada. (p. 57)

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Esculpir o tempo, Andrei Tarkovski. 2a. edição, São Paulo. Martins Fontes, 1998.



Un chien andalou (1929) Posted by Picasa

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